Marco Paulo
Como chega de tristezas, dei comigo nas limpezas em profunda análise às músicas do Marco Paulo.
Não posso deixar de pensar nas velhotas da aldeia, que, sentadas à soleira da porta a apanhar o sol de fim de tarde, e entre pontos do bordado da toalha de linho para oferecer à filha, comentam a propósito de um cartaz de um espectáculo do Quim Barreiros:
“As músicas dele são todas muito porcas, só diz coisas más. Eu gosto é do Marco Paulo. Que saudades desse senhor”
(reparem como eu sou boa na tradução do mirandês para português)
Viremo-nos agora para Marco Paulo. Então vamos lá ver, primeiro temos:
“Sempre que brilha o Sol
naquela praia,
sinto o teu corpo vibrar,
dentro de mim.
O teu respirar,
o teu rosto, o cabelo, os teus beijos, em delírio, estremeço, ooooohhhhhhhhh"
Nota: Um homosexual numa praia, possivelmente de nudistas (com todos os detalhes até ao orgasmo).
Depois vem ainda:
Quando você vem com essa cara de menina levada para a brincadeira
Dá-me um arrepio na pele, sinto água na boca pra ficar com você
Você não tem um pingo de vergonha, e todo o homem sonha ter alguem assim
Realizando minhas fantasias, taras e manias, você vem pra mim
Uma lady na mesa
Uma louca na cama
Na maior safadeza você diz que me ama
E na minha cabeça
Desvario e loucura
Quando você começa
Ninguém mais a segura
E mexe remexe
Se encosta, se enrosca
Se abre, se mostra pra mim
Me agarra me morde me arranha
Não mude que eu quero você sempre assim
Agora estou a imaginar as mesmas senhoras idosas num espectáculo do Marco Paulo com aquele bater de palmas característico e a cantar em alto tom
E mexe remexe
Se encosta, se enrosca
Se abre, se mostra pra mim
Me agarra me morde me arranha
Não mude que eu quero você sempre assim
Tenho saudades da Noruega
Tenho saudades de me levantar de manhã cedo (8h) e ir para a cozinha espalhar “good mornings” e cantorias para desespero de quem lá estava acabados de acordar.
Tenho saudades da corrida matinal para o autocarro que teimava chegar sempre uns segundos antes de mim.
Tenho saudades de olhar para o ar distante dos noruegueses com os seus auriculares sem querer saber da conversa do vizinho ao telemóvel.
Tenho saudades de chegar ao laboratório a espalhar “good mornings” a toda a gente que começou a trabalhar 2 horas antes de mim.
Tenho saudades de ouvir um “clara, o gel que tens a corar há 3 dias já deve estar mais que corado”
Tenho saudades de ver o olhar da Gro como que a pedir “por favor, não faças piada”.
Tenho saudades de voltar a casa e ligar-me à net o resto do dia.
Tenho saudades da pizza oficial da nossa cozinha.
Tenho saudades das palhaçadas na neve e de chegar com o rabo todo molhado e gelado a casa.
Tenho saudades de um mergulho na água gelada, com um fato 2 numeros acima do meu, que me deixava a tremer mais de meia hora.
Tenho saudades de me colar ao jantar dos espanhóis (não por vontade minha).
Tenho saudades dos mega jantares que a minha menina preparava para mim.
Tenho saudades das noites de sueca e catan.
Tenho saudades das sessões de cinema.
Tenho saudades das tardes de inverno que tinham forçosamente de se tornar úteis.
Tenho saudades das grandes noites de borga.
Tenho saudades das grandes borgas que insistiam em me deixar mal disposta no dia seguinte (maldita comida).
Tenho saudades de acordar mal disposta e ver que há mais gente que “comeu” o mesmo que eu.
Tenho saudades de todos os que me fizeram sentir em casa.
Tenho saudades de ter saudades de Portugal.
das piadas
Apesar de roubada de um blog vizinho, tinha de colocar aqui uma grande piada:Sabem como se chama um boomerang que não volta ao ponto de partida?UM PAU...
Ainda nos regressos
A meio gás mas vou voltando.
4 de Julho de 2006, 9 meses depois da partida para a Noruega, é tempo de regressar.
Chegada a Portugal reparo em tudo aquilo que já tinha saudades. É a incompetência nos serviços públicos (nada se consegue resolver mas, como que por magia, um telefonema feito por alguém, já são capazes de tratar tudo nos dias que queremos), é o típico portuguesito que tem sempre de mandar a boca parola a pensar que vai deixar uma rapariga louca de paixão, é o típico condutor e aversão a deixar passar as pessoas na passadeira, enfim, tudo aquilo tipicamente portugês.
Depois de um regresso a Portugal, e de uma estadia em coimbra e uns saltos à Figueira (porque para saltos DA figueira ainda é cedo), é tempo de um segundo regresso, o regresso à MEGA vila de SENDIM.
Sendim, uma pacata vila localizada no nordeste transmontano, concelho de Miranda do Douro, onde a pessoa que escreve este texto foi criada (apesar de não nascida lá), é palco de grandes acontecimentos durante todo o ano mas principalmente na altura de verão.
Quem não se lembra do povo em revolta a querer bater no padre no domingo de Páscoa? Quem é que nunca ouviu falar do Festival Intercéltico de Sendim que tem vindo a acontecer todos os anos dede há 7 anos para cá ou da concetração Motard realizada na pacata vila? Quem nunca ouviu falar dos enchidos da mãe da Clara? (bom, disto talvez ninguém).
Pois bem, foi a essa vila que eu regressei para umas “feriazitas” um ano depois.
Começa logo com más notícias. O grande JOSÉ MALHOA tinha vindo fazer um espectáculo a Sendim 2 dias antes do meu regresso. Uma notícia que me partiu o coração. Eu que gostava tanto de assistir ao vivo a grandes temas como o da barraca que abana quando chega o fim de semana (como já se devem ter apercebido eu não sei o nome da música) e o da jovem que vai ter de rezar, depois de ajoelhar. A verdade é que não assisti. Só por isso aqui está ele: